quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

“Eu costumava comer caras como você na prisão”


Enquanto visitava o blog do amigo Renzo Mora, em sua postagem sobre um livro americano sobre filmes ruins, deparei-me com a pequena citação, que titula este meu texto. Essa  que é apenas uma de várias outras pérolas da dramaturgia mundial, foi proferida por um dos malfeitores presentes no filme “Matador de Aluguel” (Road House, 1989), do diretor Rowdy Herrington. Produzido em uma época mágica onde os tiros sangravam, o casal principal fazia sexo, raramente se matavam menos de 50 pessoas e o  falecido Patrick Swayze se dividia entre bancar o homem dos sonhos das mulheres e defender oprimidos de malfeitores sodomitas.  É uma pequena gema que lida com a figura de um mártir (no caso Dalton, um leão-de-chácara) que ao se deparar com a perdição, anarquia e caos tenta fazer a diferença, trazendo a paz e a harmonia em um local que não parecem conhecer essas palavras . Mas no lugar de uma bíblia e uma palavra amiga, ele tinha seus pés e punhos. 
Dalton dissertando sobre o ensaio "A Utopia", de Thomas More
Um tema que se repete várias vezes na filmografia americana, mas poucas vezes de maneira tão poética. Embora muitos críticos fossem acusar o filme de imperialista, já que a violência é moralizada na história e em momento algum a figura dos oprimidos pelo cruel Brad Wesley (encarnado com primor por Ben Gazzara) se mostram tão vivos e capazes longe da presença de Dalton. É como um "Novo Cristo", voltando para salvar os oprimidos. Hão também de criticar que a figura da bela médica Elizabeth “Doc” Clay ( uma estonteante Kelly Lynch) só se faz presente para servir de vítima e de amante do herói,  o velho reducionismo da figura feminina. Provavelmente até mesmo belíssimas cenas como em que Dalton e seus colegas impedem um grupo de pit boys de entrarem sem estabelecimento sem ser por uma conversa tomando um chá ou quando Denise (o colosso Julie Michaels), namorada do vilão, dança sensualmente, culminando em um striptease, serão vistas como baixas, como símbolos de uma época decadente, porém superada na história do cinema americano.  Provavelmente o fato do protagonista ser um segurança de boates que REALMENTE prefere tentar uma certa dose de diplomacia antes de usar suas verdadeiras habilidades seria acusado de falta de realismo, como se isso importasse à trama.
Um herói e um amante - a síntese perfeita da carreira de Swayze nos anos 80

Mas não se iludam, leitores. É apenas a retratação da superação de si mesmo através da perseverança. Um filme sobre fazer o que é certo, é essa a questão posta em pauta pelo diretor. Como disse, pode ser um tema batido, mas não é a “originalidade” que importa, mas a condução, o que ele nos diz sobre nós mesmos. A ausência desse filme no Oscar do ano de seu lançamento e mesmo sua ausência mesmo nas mais respeitosas listas de “Melhores de Todos os Tempos” jamais será compreendida por mim. Mas tudo bem. Certas obras nasceram muitos anos mais cedo do que deveriam.
 Uma pequena demonstração da boa vontade de Dalton para com o próximo:

15 comentários:

herax disse...

A estrutura desse filme é faroeste puro, com o mocinho chegando numa cidade dominada por criminosos e limpando-a desses maus elementos. E acho muito interessante o fato do Ben Gazzara cada hora aparecer com um veículo diferente, um mais chamativo do que o outro.

Luiz Alexandre disse...

Sem sobra de dúvidas. É a velha trama do cowboy forasteiro que limpa a cidade dos malfeitores. O Ben Gazzara é um dos grandes destaques do filme. Gosto do leão-de-chácara manco feito pelo Sam Elliot também. O velho mestre do jovem guerreiro. Pena que a continuação, segundo o Osvaldo, é uma droga!
Abraços, Herax.

herax disse...

Nem sabia que tinha uma continuação... é com quem?

Ronald Perrone disse...

Também não sabia que tinha continuação. Estava pra rever este aqui por esses dias... há tempos que que não vejo.
Ótimo texto, Luiz!
Grande abraço!

Luiz Alexandre disse...

Herax e Ronald, a continuação é com um ator chamado Jonathon Schaech, é um galã do segundo escalão de Hollywood. Acho que o papel de maior destaque dele foi no "The Wonders", do Tom Hanks, onde ele era o vocalista. Foi casado com a Christina Applegate, se não me engano. Parece que o vilão do filme é o Jake Busey, filho do loucaço Gary, e ainda tem participação do Richard Norton, mas sua persona seria desperdiçada, de acordo com nosso amigo Osvaldo.

Obrigado pelos elogios, Ronald.

Bruno C. disse...

Precisamos de mais filmes assim, que elevem o espírito humanitário do ser humano.

Luiz Alexandre disse...

Concordo plenamento, Bruno. São como salvadores de vidas!
Abraço.

Unknown disse...

Luiz, muito bom, cara!! :)

A continuação é quase um remake B do primeiro filme. Achei divertidinho, mas muito ordinário. E isso mesmo, Norton está desperdiçadíssimo. É preciso ser muito burro para escalar alguém como Richard Norton e não dar nenhuma cena de luta decente para ele.

As melhores coisas do filme são o Will Patton entrando na porrada (sério, nunca pensei que veria isso na minha vida!!) e uma 'catfight' brutal perto do fim.

Luiz Alexandre disse...

Isso já torna a coisa um pouco mais sedutora, Osvaldo. Vou tentar ver um dia, Will Patton porrador é algo que precisa ser visto.

Caio disse...

Os textos do cara são ótimos. Mas eu não peguei isso na TV :(

Luiz Alexandre disse...

"Os textos do cara são ótimos."

Fiquei um pouco perdido, Caio. Você se refere aos roteiristas deste petardo?

Caio disse...

Não vem com essa falsa modéstia, tô falando do estilo mesmo de sua escrita, não consigo ler quase nunca ao menos 2 parágrafos desses críticos 'sérios'.

Luiz Alexandre disse...

Caio, não estava sendo falso modesto, eu realmente não tinha entendido seu elogio. Muito obrigado. Mesmo.

Caio disse...

Haha, ok. Eu também tava brincando com "falsa modéstia".

Só um texto mais "solto" assim pra me deixar com vontade de ver algo que nem é tão falado.

Ronald Perrone disse...

Luiz Alexandre é uma influência de peso aos blogueiros de resenha informal. Os textos dele são ótimos, por isso que enchi o saco pra voltar com o Mad Blog! hehe