Eis que finalmente assisto ao filme que seria o “Cidadão Kane” da “cascagrossice” cinematográfica. Sylvester Stallone chamou alguns dos nomes mais marcantes do cinema de ação dos anos 80, 90 e 00 para fazer um daqueles filmes simples, sem refinamento, mas que envolviam um mínimo de 50 mortes por tiros, facas e espancamentos por parte do protagonista.
Para começar gostaria de lembrar que uma vez eu dizia em uma palestra que dei sobre cinema, uma dessas que faço frequentemente nas mesas de botequim do meu bairro ,onde divido com mais dois indivíduos cujos nomes não me recordo, que não existia violência gratuita no cinema, existem apenas os bons e os maus filmes. Com certeza muitos julgaram este filme, assim como vários outros nas filmografias dos envolvidos no projeto, como “descerebrado”, desses que faz “apologia a violência gratuita”. Mas, ora bolas, como que um bando de mercenários derrubariam um ditador sulamericano? Com placas dizendo “abaixo a ditadura” e ensaios fenomenológicos de Jean Paul Sartre? Nada contra os acadêmicos, eu mesmo adoro vários pensadores e críticos, mas fazer o Stallone interpretando um leitor de Noam Chomsky que vende seus serviços intelectuais para CIA não faria muito sentido, embora eu acredite que ver o Dolph Lundgren encarnando um Pós-doutor em filosofia, com especialização no pensamento racionalista de Bertrand Russel, faixa preta de Karatê certamente que me chamaria a atenção. Mas já estou divagando. O fato é que “Os Mercenários” é um filme bacana, divertido, mas que rendeu sim menos do que a comunidade cinéfila estava esperando. Quero dizer, é melhor do que muita coisa, mas podia e devia ter sido melhor. Stallone filmando lutas como se fosse o Paul Greengrass é inconcebível. Seria como o David Coverdale lançando um disco tendo como banda de apoio o Simple Plan.
Os personagens então, dispensáveis como diz a tradução literal do título do filme. Jet Li desperdiçado, o momento Schwarza, Sly e Willis meio minguado e com pouco charme. Os destaques vão para Lundgren, divertido como um sujeito com miolos a menos mas agressividade a mais, pro Eric Roberts como a epítome do vilão mau caráter e assassino, dono das melhores tiradas do filme, e Mickey Rourke. Incrível como esse homem consegue trabalhar com tão pouco. O diálogo entre ele e o Stallone, na cena, aliás, mais bem filmada em toda a película, é capaz de comover até o jiujiteiro mais tradicionalista. Agora, o que me deixa meio triste é o Gary Daniels, um dos meus astros favoritos do cinema de baixo orçamento da década de 90, lutar contra o Jet Li e o Jason Statham e a câmera do Stallone atrapalhar a fruição do confronto. Digo, esse deve ter sido o highlight da carreira de Daniels, assim como pro Don Wilson foi aparecer em “Say Anything” ao lado de um jovem John Cusack e, anos mais tarde, enfrentar o Chris O’Donnel em “Batman Eternamente”. Po, isso era pra ser mais marcante que o Billy Drago matando o Sean Connery em “Os Intocáveis”!
Mas, se nem tudo é ouro, não se pode acusar o filme de chato ou um fracasso completo. As lutas mal filmadas são compensadas com boas cenas de tiroteio, o grosso do filme, e as explosões. A cena do Sly com Statham brigando contra militares em Vilena, país fictício onde se passa a história, culminando com a cena do avião ficarão em minha memória por um bom tempo. Se o Stallone acertar as gorduras do filme pra continuação estaremos diante, aí sim, do filmaço prometido.
Mudando de assunto eu, um grande entusiasta de rip offs e outras patifarias, acho que deveriam fazer um filme em que o Eric Roberts, junto do agente interpretado pelo Gary Daniels, tivessem que se juntar aos personagem maluco do Dolph Lundgren pra fazer algum estrago ou dominar algum país pequeno, o que fosse. O título do filme poderia ser "The Company Men" ou "Damnation", uma reflexão sobre a influência de uma certa nação imperialista sobre países de terceiro mundo. Poderiam filmar tudo nas Filipinas, podendo explodir o triplo de coisas caso os preços ainda sejam acessíveis como no passado, e teríamos o melhor dos dois mundos: Eric Roberts em algum monólogo reafirmando sua superioridade e seu desejo em ser soberano, dialogando de maneira psicótica com a teoria do "Super-Homem" Nietszcheana, Dolph Lundgren como o mercenário que participa de qualquer coisa desde que lhe seja permitido matar um monte de gente, numa alusão capenga ao Heidegger e Gary Daniels como o fiel escudeiro de Roberts, que no decorrer do filme perceberia que o poder é corrupto e que deseja abandonar o barco após ajudar o velho companheiro, mas será tarde. A base pra isso seria um plágio descarado ao filme “O Homem que Queria Ser Rei”, junto ao “Homens de Guerra” com pitadas de “Riot” e “Operação Kickboxer”.As duas últimas seriam apenas porque são dois de meus filmes favoritos do Daniels e do Roberts, respectivamente., não queria dar atenção apenas ao Lundgren. Eu até colocaria o Kenneth Tigar e o Philip Rhee como coadjuvantes e uma foto do Brandon Lee com o Lundgren, tirada dos sets do “Massacre no Bairro Japonês”, em homenagem ao falecido. Poderiam até mesmo mostrar um Flashback do Lee dizendo a ele “você tem o maior pênis que já vi”, para reforçar a intimidade entre os dois. no passado e como sua ausência parece ter deixado um buraco no peito de Lundgren. Bom, talvez a ultima parte pudesse ser diferente. O importante é algum produtor picareta ler esta postagem, arrumar o dinheiro e fazer o filme. Fiquemos na espera!
Atualização: O senhor Otávio Pereira, mais conhecido como Octavius, do Neurovisual Experiences, sugeriu que na já clássica cena do Flashback de Dolph Lundgren recordando Brandon Lee, rolasse uma canção de amor no plano de fundo. Sugeri inicialmente Cindy Lauper, mas acho que essa aqui traduziria melhor a relação entre os dois personagens: